Em 26.12.2019 recebi a Newsletter mensal do clube de vinhos Sociedade da Mesa (sou membro deste clube já tem alguns anos), e na agenda constava o evento Winery Day: Vinícolas de São Roque, dia 18.01.2020. Curioso, cliquei para saber do que se tratava: um passeio, de um dia, pelas vinícolas da cidade de São Roque-SP. Nem pensei duas vezes: comprei o convite no mesmo dia (https://www.wineryexperience.com.br/) e só aguardei a São Paulo tem algumas regiões produtoras de vinho, mas nada que data chegar para ver o que teria pela frente. Sei que no Estado de se mostre relevante como, por exemplo, a Serra Gaúcha. Nunca vi vinhos paulistas sendo vendidos em supermercados, por exemplo. Então, fui sem qualquer expectativa.

O grupo foi formado por 12 pessoas (incluindo o motorista da van, que não participou dos passeios e os dois sócios da Winery Experience, Robson e Jaqueline, que foram também nossos supersimpáticos guias). Saímos de São Paulo às 8h30, fizemos um lanche dentro da van e, durante a viagem, nossos guias nos informaram que São Roque sempre fez vinhos de mesa, e só mais recentemente começaram investir na produção de vinhos finos. Não é muito diferente do que ocorreu no sul do país, só que lá esta transformação começou a mais tempo, no fim do século passado. Às 10h, estávamos entrando na primeira vinícola, a Adega Terra do Vinho (https://www.adegaterradovinho.com.br/). Uma degustação de vinhos da casa estava nos esperando. Me surpreendi com os sabores! Não provei todos, mas os que provei, aprovei. Acabei comprando três garrafas, sendo dois Tannat e um Carmenère.

Por volta de 10h30 entrávamos na Vinhos Frank (https://www.vinhosfrank.com/), outra adega com produção local. Na entrada do restaurante, o pergolado com videira me ganhou! O complexo é formado pela loja de vinhos, um restaurante, uma loja de frios e souvenirs e um café. Na loja, outra degustação, novas surpresas: não esperava, sinceramente, que provaria vinhos tão bons em São Roque! Me segurei para não arrebentar com o orçamento, saí de lá apenas com um espumante rosè sensacional, o Ferdinanda Brut Rosè. A atendente explicou que ele é composto pelo blend de duas uvas: uma era Chardonnay, a outra sinceramente não me lembro. Infelizmente no site também não consta esta informação, seria importante se tivesse. Na lojinha de souvenir, comprei uma camiseta muito legal, com nomes de uvas – logo meu instagram terá alguma foto com ela. Na saída, passamos no café para comer pastel de nata (os famosos pastéis de Belém).
Depois, fui vendo ao longo do percurso vários outros estabelecimentos oferecendo a mesma iguaria, e percebi que São Roque tem influência muito forte da enologia portuguesa – diferentemente da Serra Gaúcha, que tem cultura enológica predominantemente italiana.
Perto de 11h15 entramos no Museu do Vinho de São Roque, anexo à Vinícola Canguera, nossa visita seguinte (http://www.vinhoscanguera.com.br/). Esta vinícola é a mais antiga da cidade, porém boa parte de seus vinhos, hoje, são produzidos a partir de vinhedos plantados no Rio Grande do Sul, o que me desencantou – até participei da degustação, mas prefiro comprar estes vinhos lá na origem. O local é muito bonito, tem um restaurante bem charmoso. Eles também vendem garrafas decoradas, muito bonitas!

Pouco depois de meio dia era hora de forrar o estômago, pois se saco vazio não para em pé, imagine cheio de vinho… Fomos à Quinta do Olivardo (https://quintadoolivardo.com.br/). Se ainda tinha alguma dúvida sobre a influência portuguesa na região, acabou aqui: uma casa portuguesa com certeza! Dia 18 (dia do nosso passeio) começava a festa da vindima, que dura um mês: você pode agendar para fazer um passeio completo (tem que tirar um dia só para isso); festas portuguesas, danças, e a “pisa da uva da família”: enquanto um grupo fica cantando e tocando músicas típicas portuguesas, as pessoas passam por um lagar (tanque de pedra), descalças, literalmente pisando as uvas (como era feito antigamente)! Fiquei assistindo à cena a partir de um dos restaurantes (além de alguns restaurantes, o complexo tem lanchonetes, pesque-pague, tirolesa… enfim, é passeio para um dia todo mesmo)! No almoço pedi, como entrada, um bolinho de bacalhau com queijo. Delicioso! Para o almoço, dividi com a Jack um Bacalhau Zé do Pipo à Moda da Casa. O cardápio dizia que atendia duas pessoas: mas pode pedir para quatro pessoas, que ainda corre o risco de sobrar. Ah, sim, maravilhoso também! Para acompanhar, a Jack aceitou minha sugestão e degustamos um Pedra Cancela Branco, vinho português da região do Dão. Já tomei outros Dão antes, mas este estava divino, foi a combinação perfeita! A Jaqueline, que não é dada a vinhos brancos, também elogiou (não sei se realmente gostou ou se foi só para agradar o cliente… hahaha). Passamos na loja de vinhos do lugar e fizemos a degustação dos tais Vinhos dos Mortos (vinhos cujas garrafas ficam literalmente enterradas por alguns meses). Não resisti: comprei um Chardonnay, com a garrafa suja de terra. É muito engraçado ver aquelas garrafas sujas. E não é tinta, ou qualquer enganação: é terra mesmo, você passa o dedo e ela sai no teu dedo! Outra coisa legal que o Olivardo faz é permitir que você compre teu vinho, enterre e volte lá, meses depois, para desenterrá-lo e levá-lo para casa (não, não fiz isso. Pelo menos, não desta vez).

Às 14h30 chegamos à Vila Don Patto. Outro complexo formado por restaurantes, lanchonetes, loja de vinhos, etc. No teto da loja, algumas frases muito interessantes, tais como: “Um bom vinho é poesia engarrafada” (Robert Louis Stevenson), ou “O vinho é composto de humor líquido e luz” (Ernest Hemingway))! A Don Patto vende vinhos chilenos. Degustei alguns, muito bons. A variedade de produtos na loja me chamou a atenção! Se fosse um consumista, teria falido lá dentro!
Quase 16h, última visita do dia: Vinícola Góes (http://vinicolagoes.com.br/). Os turistas estavam dançando e se divertindo ao som de música portuguesa e dançarinos típicos. Lá também tem vários ambientes, com restaurantes, cafés, lojas, etc. Curioso: eles mantêm separados dois espaços para degustação: um para vinhos comuns, e outro para vinhos finos. Neste segundo, se quiser degustar, precisa pagar uma taxa de R$ 15,00 (não reversível em produtos). Pagando, você pode degustar quatro (sim, apenas quatro!!!) vinhos, e o pior, não pode degustar o vinho que é considerado a estrela da casa (e o mais caro da prateleira) , o tal Philosophia 2017. Ainda assim, vale a pena fazer a degustação. Pedi para provar apenas vinhos produzidos na região, e dos mais de 20 rótulos a seleção caiu para sete – tirei dois espumantes moscatel e um brut, e degustei meus quatro vinhos, todos muito bons. Enfim, 17h partimos de volta. Voltei cansado, porém satisfeito: o passeio foi delicioso, as companhias adoráveis, as experiências sensacionais. Quero voltar, com mais tempo, para explorar outras vinícolas que ficaram pelo caminho.
Curiosidade: só no dia seguinte fui saber que este foi o primeiro passeio promovido pela Winery Experience. Estão de parabéns, pois foi delicioso! Começaram com o pé direito, e eu tive a felicidade de participar disso.
Um abraço, e até a próxima!