No ano de 2010, por iniciativa do então presidente (hoje condenado) Lula, o Congresso Nacional aprovou a Lei 12.292, de 20.07.2010, com o seguinte teor:
Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a doar recursos à Autoridade Nacional Palestina, em apoio à economia palestina para a reconstrução de Gaza, no valor de até R$ 25.000.000,00 (vinte e cinco milhões de reais).
Parágrafo único. A doação será efetivada mediante termo firmado pelo Poder Executivo, por intermédio do Ministério das Relações Exteriores, e correrá à conta de dotações orçamentárias daquela Pasta.
(Você pode ver esta Lei neste link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12292.htm)
Na época fiquei bem revoltado com esta “bondade”, tanto que, através do Twitter, discuti com um dos Senadores do Paraná a respeito. Ele iniciou dizendo que era coisa “desse governo corrupto”, mas terminou dizendo que a votação tinha sido “simbólica”. Consultei o site do Senado e, realmente, dizia “As Srªs e os Srs. Senadores que o aprovam queiram permanecer sentados. (Pausa.) Aprovado.”
- Apenas 3,25% dos municípios paranaenses possuem central de tratamento do lixo, e somente 9,85% tem aterro controlado.
- 76% dos municípios não têm um local apropriado para o descarte de pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes.
- Água tratada não chega a 20% da população do Estado.
- Em 51,5% dos municípios não há polícia civil permanente.
- Em 70% não há corpo de bombeiros!
- Não se separa lixo reciclável em 44% de nossos municípios.
- Apenas 49% dos paranaenses são atendidos por rede de esgoto (dados da Sanepar).
- 29% dos municípios não têm hospital que atenda pelo SUS.
- 45% não têm uma maternidade.
- 75% das prefeituras não possuem ambulância equipada com UTI!
- O Estado todo tem apenas 68 hospitais com pronto socorro e 54 UTIs neonatais (lembrando que são 399 municípios).
- Em 34% dos municípios não há parque industrial.
- Apenas 22% dos municípios têm teatros.
A partir do ano seguinte, todos sabemos, a situação do país só piorou: veio a recessão, fruto da má administração (investiu-se muito em consumo e nada em produção), e a população está sofrendo os efeitos disso até hoje. Tanto que o atual governo usa este argumento para tentar, a todo custo, aprovar uma absurda reforma previdenciária.
Maaaaaaas, olha a surpresa: nesta quinta, dia 25 de janeiro de 2018, o presidente da Câmara, rodrigo Maia, que está substituindo temporariamente o presidente da república, publica a seguinte Medida Provisória:
Art. 1
ºFica a União autorizada a doar recursos ao Estado da Palestina para a restauração da Basílica da Natividade, na cidade de Belém, Estado da Palestina, no valor de até R$ 792.000,00 (setecentos e noventa e dois mil reais).Parágrafo único. A doação a que se refere o caput será efetivada por meio de termo de doação firmado pela União, por intermédio do Ministério das Relações Exteriores, e correrá à conta de dotações orçamentárias do referido Ministério.
Art. 2
ºEsta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação.Brasília, 25 de janeiro de 2018; 197
ºda Independência e 130ºda República.
Viu que lindo? O Brasil quebrado, doando novamente dinheiro para reconstrução de obras no Estado da Palestina. Ok, entendo que um lugar devastado por uma guerra fratricida precise de ajuda; mas, será mesmo que estamos em condições de fazer donativos como estes? Alguém vai dizer: “ah, Emerson, desta vez o valor é bem menor do que o anterior”… Não importa a quantia: ou o Brasil está quebrado (e por isso precisa reformar desesperadamente a previdência – logo, não pode gastar com doações como esta), ou o Brasil está bem (podendo doar para quem vive explodindo tudo – logo, não precisa reformar tão desesperadamente a previdência).
Novamente, alguém vai argumentar que a quantidade de dinheiro doada não faz diferença no “rombo da previdência”. E eu devolvo: não é o valor que importa, e sim o significado disso. Quem tem problema financeiro não pode doar um centavo que seja. Simples assim.